Fundador da Academia de Judo (1946) e da Academia de Budo (1958)
Fundador da União Portuguesa de Budo
Professor de Judo e Budo
Introdutor do Judo Marcial em Portugal
Foram colocadas algumas questões acerca de Correia Pereira a três ilustres sócios da UBU que com ele privaram e que ajudarão assim a compreender melhor essa figura.
Dr.ª Maria Helena Pecante
António Corrêa Pereira era um homem bom, íntegro, honesto que acreditava na Beleza da vida e que procurava fazer todos felizes à sua volta.
Era metódico nos seus trabalhos e nos seus escritos: não deixava nada ao acaso e, antes de tomar uma decisão, procurava informar-se sobre tudo o que pudesse contribuir para o ajudar a seguir o caminho certo. Na sua letra muito igual, tomava notas pormenorizadas sobre os prós e os contras, e guardava-as ordenadamente para consulta posterior.
Tinha alma de poeta: a fantasia e o sonho enriqueciam-lhe a alma, lia muito, estudava muito, e gostava de partilhar com os amigos os seus devaneios e os seus saberes. Seguia com cuidado as velhas tradições alemãs e, ao longo do ano, festejava-as tanto pelo seu substrato da antiga Germânia como pelo sentido cristão que se lhes sobrepusera.
As Artes Marciais eram a sua maior paixão, mas não a única. A segunda seria a AMIZADE – tinha um grande grupo de amigos fiéis, de longa data, que prezava e com quem frequentemente se encontrava, e que eram como que a extensão da família a quem dedicava um amor e respeito inexcedíveis.
As Artes Marciais seriam uma simbiose entre o exercício físico e uma filosofia de vida; os seus princípios éticos contribuiriam para a formação do Homem completo, do Homem ideal.
Desde que os nossos caminhos se cruzaram, nunca me apercebi de qualquer desinteresse. No entanto, nada havia nele que mostrasse qualquer atitude de admiração pela guerra mas sim uma veneração pela PAZ, que procurava conseguir pela prática do Judo – arte de defesa que, aproveitando a energia do adversário, o desarmaria e, consequentemente, o despojaria da sua agressividade.
Penso que Corrêa Pereira veria hoje a UBU com complacência e amor. Pensaria que a sua dedicação às Artes Marciais não fora em vão. E, na medida do possível não deixaria de incentivar todos os que dedicadamente estão à frente dos destinos da UBU e mantêm vivo o seu sonho num mundo muito diferente daquele em que o Judo dera os primeiros passos em Portugal.
Não creio que tenha tido a noção de pioneirismo. Sabia perfeitamente que estava a introduzir algo de novo no nosso país mas, na sua modéstia, nunca o vi arrogar-se de qualquer mérito especial pelo que estava a fazer.
Corrêa Pereira via com muito maus olhos o fenómeno competitivo no campo das Artes Marciais. A filosofia subjacente ao conceito de Artes Marciais não se coaduna com o da competição desportiva em que o objectivo principal é a obtenção de pontos, a qualquer preço, para derrotar o adversário. A sobrevalorização deste objectivo sobre todos os outros conduz frequentemente a práticas pouco correctas, quando não mesmo reprováveis. Procuram esmagar o outro, sem dó nem piedade, utilizando estratégias lesivas da sua integridade física. Muitas vezes esgotam as suas forças para chegar rapidamente a uma vitória arriscando a sua própria saúde e até a vida. A competição desenfreada acarreta consigo a ruptura do equilíbrio entre o corpo e o espírito, que é essencial para a vida do homem.
Engenheiro Luís Pinto e Silva
As respostas que envio são pessoais mas devem traduzir a grande consideração e amizade que sempre dediquei ao Sr. António Corrêa Pereira.
Uma vez, manifestou um grande interesse por um microfone que vi numa revista suíça e que fundamentalmente se traduzia em fazer eco. Prontifiquei-me a mandá-lo vir por um comandante da TAP meu amigo e quando o microfone chegou ele experimentou-o e, talvez perante a desilusão, disse-me «Mas para que é que eu quero isto?»
Outra vez em sua casa no Carnaval houve um “assalto.” Perante tanta gente mascarada confidenciou-me «Está aqui tanta gente que eu nem conheço!»
Um dia, apesar dos muitos gravadores que possuía, no tempo em que poucos gravadores havia, manifestou-me o seu desgosto por não haver um gravador que registasse o mais pequeno ruído. Eu disse-lhe que na Suíça havia uma casa que fabricava gravadores para a ciência médica que registavam quase tudo. Numa das suas deslocações à Suíça, procurou e encontrou a casa e pediu «Quero um gravador tão bom que registe um micróbio a mastigar.» E o gravador foi fabricado.
Tinha muitas outras paixões, em especial o relacionamento com os seus muitos amigos, os livros raros, e todo o seu interesse e curiosidade por tudo, desde as mais pequenas às maiores coisas.
Penso que o Sr. Corrêa Pereira olharia para a sua UBU, hoje, com carinho e compreensão.
O Sr. Corrêa Pereira via o fenómeno competitivo com muita amargura.
Mestre Leopoldo Ferreira
Foi um Senhor muito observador, que gostava muito de receber os amigos em sua casa com grande gentileza e polida educação.
As Artes Marciais eram a sua paixão, mas também gostava muito de fazer colecções.
O Mestre Corrêa Pereira procurou que as artes marciais em Portugal se aproximassem da maneira como se praticavam no Japão.
Nunca se desinteressou pelo fenómeno marcial, embora não frequentasse a partir dos anos 70 com regularidade a Academia de Budo. Tinha muitos filmes de artes marciais Japonesas que procurava divulgar o mais possível.
Achava que o fenómeno competitivo, o desporto, não tinha nada a ver com as artes marciais, por isso manteve-se afastado de qualquer prática de carácter desportivo.